A ação, o gesto e a matéria nas xilogravuras de Fabrício Lopez

Esta pro­pos­ta de comu­ni­ca­ção refe­re-se ao tra­ba­lho do artis­ta bra­si­lei­ro Fabrí­cio Lopez, nas­ci­do em 1975, em San­tos, São Pau­lo, espe­ci­fi­ca­men­te às xilo­gra­vu­ras colo­ri­das em gran­des for­ma­tos, pro­du­zi­das des­de 2009 até hoje.

No tra­ba­lho de Fabrí­cio Lopez a gra­va­ção da madei­ra é fei­ta com facas, goi­vas e for­mões, a impres­são tam­bém é fei­ta manu­al­men­te, pode-se con­cluir que o artis­ta tra­ba­lha a téc­ni­ca de for­ma tra­di­ci­o­nal. Em con­tras­te a esses aspec­tos ele fez esco­lhas que são pou­co usu­ais para a gra­vu­ra. Em pri­mei­ro lugar, a dimen­são, as gra­vu­ras men­ci­o­na­das vari­am entre 2 e 5 metros. Em segun­do, a esco­lha por tra­ba­lhar sozi­nho, em um ate­liê de gra­vu­ra é comum o auxi­lio de assistentes.

Esses dois fatos asso­ci­a­dos, gran­des dimen­sões e o tra­ba­lho soli­tá­rio con­fe­re a este artis­ta uma con­di­ção par­ti­cu­lar, levando‑o a trans­gre­dir, ain­da que de for­ma gen­til e cons­tru­ti­va, esta mes­ma tra­di­ção da qual ele vem, por impo­si­ção das pró­pri­as con­di­ções que escolheu.

Essas gra­vu­ras são colo­ri­das, para cada ima­gem há mais de uma impres­são, vári­as matri­zes são impres­sas sobre­pon­do-se de manei­ra livre, sem regis­tro, devi­do às dimen­sões, a esco­lha do artis­ta é de pro­du­zir cópi­as úni­cas. A téc­ni­ca da xilo­gra­vu­ra, que ori­gi­nal­men­te pos­si­bi­li­ta a repro­du­ção, ser­ve a Fabrí­cio Lopez como lin­gua­gem, ele explo­ra o dese­nho da linha gra­va­da e do emba­te do seu cor­po com a madei­ra, porém para a pro­du­ção de ima­gens únicas.

O espa­ço do ate­liê e suas fer­ra­men­tas foram adap­ta­das, cri­an­do estra­té­gi­as para o tra­ba­lho. Mais notá­vel é que o ges­to e o pró­prio cor­po do artis­ta fazem par­te des­sa cons­tru­ção. A ação des­se artis­ta, a inte­gra­ção de seu cor­po e suas fer­ra­men­tas é o que se pre­ten­de inves­ti­gar nes­ta comu­ni­ca­ção. Com refe­rên­cia os con­cei­tos de ‘resis­tên­cia’ e da ‘for­ça míni­ma’ (SENNETT, 2012) apren­di­das e ope­ra­das pelo artí­fi­ce, bem como das refle­xões sobre a ’mão’ (SENNETT, 2008).

Simone Peixoto é artista visual e educadora. É graduada em Artes Visuais pela Unicamp, também mestre (2009) e doutora (2020) em Poéticas Visuais pela Unicamp. Participa do projeto Xilomóvel –ateliê Itinerante desde 2010.